domingo, 13 de setembro de 2009

MEMORIAL DE MÁRCIA GANDOLFI CRISTOFOLINI




Doeu aprender e aprender doeu, não aprendi,, me afastei das letras que ainda não conhecia, logo eu, que passeava pelas palavras das lindas histórias que minha tia contava e pedia tantas e tantas vezes para contá-las novamente, logo eu que passeava por seus caminhos sem entendê-las. Os espaços entre as palavras eram ruas que eu traçava para chegar à casinha que ficava no topo do livro, “não risque o livro” minha mãe dizia sorrindo, mas eu continuava e dizia, mas como a menininha que está aqui embaixo vai chegar lá em cima sem passar pelas estradinhas? Eu não riscava as palavras, só traçava caminhos e ia criando minhas historinhas dentro de uma história, de um livro.
Quando fui matriculada na escola, minha alegria foi imensa, mas aprender doeu, a professora era o lobo mau e ao mesmo tempo a madrasta da Cinderela e da Branca de Neve juntas.Medo...Eu achava que era normal, todos, todos os dias apanhar sem saber por que, por que puxar minha orelha se eu não fiz nada? Nunca apanhei com a régua de madeira, mas a maioria da sala sim, e meu olhos cresciam de medo. Como que iríamos ler a cartilha se não sabíamos ler? Ler o quê? Eu não queria mais ir para escola, nunca mais! Minha mãe me tirou da escola em outubro, ainda não sabia ler, mas sabia ler poucas palavras porque na cartilha havia algumas palavras associadas às imagens, todo dia era ler e ler, sem falar, sem olhar para os lados, mas ler o quê?
Minha tia, aquela que alimentava minha imaginação com seus belos contos, ensinou-me o “beabá” e no outro ano, comecei a freqüentar outra escola, lá tudo era lindo e mágico, a sala era um arco-íris e as cores faziam festa, tudo era bom, as brincadeiras educativas, as histórias que a professora contava, os livros que eu lia, as declamações nas homenagens, os teatros que criávamos, as músicas que cantávamos, os textos que escrevíamos, os primeiros olhares, a primeira dança de rosto colado, a formatura.
Depois, segundo grau... perspectivas de um futuro. Segundo grau... na época estar formado no segundo grau era algo importantíssimo, era como sair quentinho de uma faculdade. O mais interessante era que na minha sala havia pessoas de todas as idades, era um colégio técnico, aprendi muito, com professores, amigos, mas havia um lugar que eu gostava muito, a biblioteca, lá conheci “O pequeno príncipe” de Saint-Exupéry,
“É preciso que eu suporte uma ou duas lagartas se quiser ver as borboletas”. As lagartas foram poucas, mas as borboletas...
Namorei,trabalhei, casei, tive filhos, vestibular, universitária. Universitária. Letras, as letras voavam como borboletas no universo acadêmico, também voei, na literatura descobri as mil cores das flores abertas que exalavam o doce segredo das páginas literárias.Olhei e sorri para a séria gramática e pisquei para a língua bonita do bão moço que roça a roça e roça a língua melodiosa do campo.
No segundo ano de faculdade, me disseram, os professores, que eu deveria ir para a sala de aula, ensinar para a vida.Então, entrei na escola da vida para ensinar, mas a escola da vida até hoje me ensina muito. Viver é aprender, nunca se aprende tudo, cada dia se aprende um pouco mais e até o errado aprende a virar certo e o que não deu certo aprende a se consertar.

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